sábado, 28 de janeiro de 2012

O Que O Preconceito Pode Causar A Uma Pessoa  -  Parte 3


Eu já estava vip da sala da diretora. A situação da minha vida estava tão ruim pro colégio que eu passei o ano sendo vigiada pelas pessoas que ficavam nos corredores do colégio. Pra que não fizesse nada de ‘’errado’’. Nada acontecia de ruim com a minha ex, eu ficava muito aliviada e feliz por ela não ter muitos problemas, mas o problema é que tudo de ruim na família, nos comentários alheio e na escola só sobravam pra mim. Eu escutava de tudo. A coordenadora geral de lá vivia falando pra mim pra eu ter cuidado pra não estragar a reputação da minha mãe, não diretamente, porque ela é muito respeitada e eu poderia a fazer passar vergonha. Ela não tinha noção de o quanto isso me deixava mal. Ouvia as pessoas ignorantes me xingar, falar mal de mim pelas costas, ouvi o que todos achavam de mim, sem ao menos querer saber. Escutava quase todos os dias meu pai falando que eu estava fazendo minha mãe chorar toda noite. Eu via minha mãe chorar por causa de mim. Eu tinha que ouvir uma tia minha falando merda o tempo todo comigo, ainda não esqueço o dia que ela disse que minha avó sabia de mim e que estava muito triste com isso. Minha avó e muito importante pra mim, mais do que qualquer um da minha família e ouvir que eu a deixei triste me deixou pior do que eu já estava. Eu estava sozinha. Além dos meus amigos, que não podiam fazer muito por mim, infelizmente, eu não tinha mais ninguém. Todos os dias eu estava mal, triste, com raiva. Todos os dias eu segurava o choro até a noite, pra ninguém me ver chorando, me trancava no banheiro e passava a noite toda chorando até cansar, todos os dias. Não tenho vergonha de falar isso e também não falo pra chamar atenção, mas eu estava me cortando. Com isso tudo eu realmente fiquei com depressão, ninguém percebeu ou pelo menos prestou atenção em como eu estava pra ver isso, eu tinha que fazer algo que me sentisse melhor. A única coisa que achei foi me mutilar, não que me orgulhe disso. Eu já tinha feito uma vez antes disso tudo e tinha jurado nunca mais fazer. Mas eu estava muito mal, nem pensava mais direito. Era uma doença, mas era a única coisa que eu tinha. Contando com algumas cicatrizes e com os que eu me lembro, fiz mais de 100 cortes no meu corpo em um ano, isso é muito.
 Minha família que fala que vai estar sempre que eu precisar comigo, foi a primeira a me deixar só e deixar os outros falarem o que quisessem comigo. Ninguém se deu ao trabalho de perguntar como eu estava. Eu estava muito mal mesmo. Nunca tinha me sentido tão lixo comigo mesma. Faziam eu me sentir mal pelo que sou.

 Inventavam de tudo pra não estragar a reputação do colégio. Ninguém ligava pra o que faziam comigo, ninguém ligava pra como eu me sentia. Com algumas exceções, até hoje odeio esse colégio. Odeio como me trataram e agiam como se fossem os mais certos e ainda depois agiam como se nada tivesse acontecido. Odeio mesmo. E não sou de odiar muita coisa. No ano seguinte, depois que tiraram a bolsa de estudos da minha ex-namorada fazendo com que ela mudasse de escola, arrumaram uma história sem sentido pra que me transferissem de colégio. Até chamaram minha mãe pra conversar sobre isso. Esse dia foi horrível, mas o que minha mãe fez foi a melhor coisa que ela tinha feito pra mim. A diretora foi conversar com minha mãe, mas minha mãe pediu que eu saísse da sala, então não ouvi a conversa. Mas ela veio conversar comigo depois e disse que eu ia continuar a estudar lá e me pediu pra que explicasse a história que contaram a ela. Eu expliquei e ela disse que acreditava em mim. Disse que a diretora tentou falar como deveria lidar comigo e com outras palavras minha mãe a mandou cuidar da vida dela e que a filha não era dela. Fiquei mui feliz quando soube dessa parte da conversa.

Depois disso as coisas melhoraram. Agora está bem melhor, não estão 100%, mas ta ‘’mil maravilhas’’ comparado a antes.
Tentei resumir essa história pra vocês verem o que o preconceito pode causar a alguém, no meu caso ainda foi mais simples, tem pessoas que passaram ou ainda passam por situações piores. Então ajude essas pessoas, não as deixem só. Não as julgue, as entenda.     

Desculpa o texto grande, mas mesmo resumindo é muita coisa.    
O Que O Preconceito Pode Causar A Uma Pessoa  -  Parte 2



Em uma tarde, na minha casa, estávamos ‘’estudando’’(enrolando que estava estudando e ficando) quando a pessoa que trabalhava na minha casa viu a gente quase se beijando. Eu entrei em pânico. Não sabia o que falar, na verdade fiquei um bom tempo calada e como meu coração quase ‘’saindo pela boca’’. Pedi pra que a minha amiga fosse embora, porque fiquei assustada e sem saber o que fazer. À noite meus pais me chamaram para conversar. Nunca tinha me sentido tão assustada. Eles já estavam sabendo. Estava tão em choque no momento que nem lembro o que eles falaram direito. Em um momento da conversa me pediram pra explicar, não saía uma palavra da minha boca. Foi bem estúpido o que fiz, mas peguei um papel e escrevi que eu gostava de meninas. Achei ridículo aquilo, mas eu realmente não conseguia falar nada. Só me lembro que o finalzinho da conversa minha mãe falou que a minha amiga não podia ir mais lá em casa e que eu ia pra uma psicóloga, porque seria melhor pra eu me entender e pra eles também. Depois desse dia achei que o pior tinha passado, mas na verdade estava só começando.
 Na semana depois desse acontecido pedi em namoro minha amiga, sei que parecia muita estupidez por causa das circunstâncias, mas eu queria. Ela demorou um tempo pra me responder, mas depois aceitou. Nunca tinha namorado ninguém, e essa notícia me deixou muito feliz.

 Nós duas estudávamos no 1° ano do ensino médio. O colégio todo já sabia do nosso namoro, antes mesmo de falarmos para alguém. Por onde passávamos todo mundo apontava, fofocava, ficava encarando...
 Como ela não podia ir mais pra minha casa e eu já não podia sair muito mesmo, pior ainda com ela, depois de um tempinho começamos a namorar no colégio. Todo mundo fazia isso e não tinha problema, porque nós não poderíamos também?
 É nessas horas que descobrimos nossos verdadeiros amigos, porque muitos só ‘’ferraram’’ com a gente.
 Estávamos num dia na aula e a coordenadora geral da escola nos chamou pra ir do lado de fora da sala. Não estava entendendo, porque nunca me chamavam pra nada. Saímos. A coordenadora mandou a gente acompanhar ela. Ainda não estava entendendo o motivo, mas continuei a acompanhá-la. Acabamos chegando à sala do filho da dona da escola, era o diretor, eu acho. Entramos e sentamos, sem entender o motivo de nossa ida até ele. Muito sério começou a conversar conosco sobre o fato de estarmos namorando no colégio. Que tinha alunos que estavam indo reclamar com ele sobre isso. Eu fiquei preocupada que ligassem para meus pais para contar isso e as coisas piorassem pra mim. Mas ele só conversou com a gente pra diminuir um pouco. Até entendemos ele. Mas nossas circunstâncias não estavam muito boas pra parar com nosso namoro na escola, diminuímos um pouco por um tempo. Depois de um tempo nos chamaram de novo na sala do diretor pra ouvir a mesma conversa, mas dessa vez ameaçaram falar com nossos pais sobre isso. Se fizessem isso eu só ia me ‘’fuder’’  mais e os pais da minha namorada ainda não sabiam, não seria muito bom saber por terceiros. Pouco tempo depois nos chamaram de novo, mas dessa vez fomos pra sala da diretora geral. Mas antes disso acontecer, minha namorada já tinha contado aos pais, não aceitaram super bem logo de começo, mas ficou tudo bem pra ela. Quando chegamos à sala da diretora descobrimos que ela já tinha falado com nossos pais. Mais uma vez um momento onde eu entrei em pânico e não sabia o que fazer e nem conseguia falar direito. Cheguei em casa, meus pais conversaram comigo pra não namorar no colégio, pra me ‘’proteger’’. Como se me esconder fosse melhor. Eles conversaram muitas vezes isso comigo.


O Que O Preconceito Pode Causar A Uma Pessoa  -  Parte 1



4 anos e 1 meses atrás eu fiz amizade com uma menina no colégio aonde eu estudava. Ela vivia me irritando. Na aula eu, que nunca fazia nada (literalmente), comecei a ser chamada a atenção porque ela conversava muito comigo e queria sempre estar ''grudada'' em mim. Eu não aguentava.
No meio do ano, mais ou menos, foi o aniversário dela, no fim da festa eu contei algo que ela não sabia sobre mim, que eu sou gay, na minha cabeça eu só pensei duas reações dela: agir como se não fosse nada ou ''surtar'' e ser preconceituosa, mas ela ficou muito estranha, muito mesmo. Depois desse dia ela continuou estranha por um bom tempo, achei que estava um pouco doente. Achei também que ela não queria mais andar comigo, porque não falava direito mais comigo. Nós até conversamos um pouco melhor depois e ela até me contou que uma vez sonhou que tava ficando com uma menina lá do colégio e que eu a conhecia, mas ela não me disse quem era. Lembro de uma tarde que eu a chamei para minha casa, ela ia muito lá, mas ela não apareceu. Liguei pra saber se ela ainda iria, mas disse que não dava por causa de algum motivo que eu não me lembro. A voz dela estava um pouco estranha, perguntei se estava bem e ela me disse que tava um pouco enjoada, mas que não era nada de muita importância. Não me lembro exatamente de como foi a conversa, mas me recordo das partes principais. Ela comentou que quando o pai dela a viu perguntou se ela tava bem e ela falou do enjôo, ele disse, de brincadeira, que ela estava assim porque tava apaixonada. Eu, pra brincar mais, fiquei abusando dizendo que era verdade e que era pra ela dizer quem era essa pessoa.
Numa tarde ela foi ''estudar'' em minha casa, porque a gente só ficava conversando, eu fiquei insistindo de curiosidade pra que ela me falasse quem era a menina do sonho dela, mas ela não queria dizer. Depois de muito tempo insistindo aí ela pegou um papel e escreveu o nome, porque tava com frescura de dizer. Quando eu peguei o papel vi meu nome, logo após ela comenta: ''acho que meu pai estava certo'', como eu sou muito idiota para perceber as coisas que acontecem comigo demorei um pouco e lembrei-me da conversa no telefone. Eu estava com o livro de literatura na mão, eu fiquei tão nervosa que folheei o livro todo, várias e várias vezes, eu não sabia o que falar, eu não tinha nem muita noção do que estava acontecendo direito. Eu sou muito burra. Eu gostava dela, mas nunca iria esperar que fosse mútuo. Não tenho palavras para explicar o quanto eu estava nervosa naquela hora. Tinha quase certeza que meu coração ia sair pela boca. 
Depois desse dia e depois de muita enrolação, a gente ficou. Ela foi à primeira menina e também a primeira pessoa com que eu tinha ficado. Parecia ridículo, mas eu estava me sentindo tão bem, parecia uma história de algum filme gay adolescente que eu vivia assistindo, um pouco patético, mas eu não conseguia controlar como eu estava por dentro.
Esses acontecimentos foram os melhores e mais felizes momentos do meu ano, até agora quando eu lembro me traz um pouco de felicidade.
Mas foi a partir disso tudo que meu ano foi ao mesmo tempo o pior ano que alguém pode ter, e num modo bem ruim, que se eu parar para lembrar machuca por dentro, muitas vezes até choro, até para continuar essa história é complicado pra mim.